por Teco Caliendo, de Detroit
Parece repetitivo, mas não falamos do Fiesta nacional, que mudou recentemente. E sim do compacto premium importado do México, que chega para balançar o segmento a partir de R$ 49.900
Como bem lembrado pelo presidente da Ford Brasil e Mercosul, Marcos Oliveira, Detroit também pode ser verde, verde! Ocorre que a maioria dos jornalistas automotivos sentem calafrios ao ouvirem o nome desta cidade americana. O NAIAS — o salão do automóvel de lá — é realizado em janeiro, durante o severo inverno do estado de Michigan, com temperaturas beeem abaixo de zero grau Celsius, alguma neve e o temido “black ice”, o gelo praticamente invisível, que se forma nas vias asfaltadas da região e causa um monte de acidentes. Na apresentação do New Fiesta, o compacto premium que será importado do México na versão sedã, o verão americano propiciou temperaturas amenas e lembranças bem mais agradáveis aos 100 jornalistas especializados convidados pela fábrica. Conseguimos até ver de perto todo o verde das florestas de Detroit. Sim, elas existem.
Além de um breve contato com o New Fiesta, pudemos conhecer algumas pistas de testes do complexo VEV — Avaliação e Verificação de Veículos — da Ford em Dearborn, na região metropolitana de Detroit, o Henry Ford Museum, andar em carros exclusivos para o mercado americano e nos protótipos que empregam novas tecnologias de propulsão — fique de olho, você vai ler esta matéria na FULLPOWER #102.
De volta ao New Fiesta, vale ressaltar que não se trata do Novo Fiesta Rocam, também recém-lançado por aqui, mas que é o nosso conhecido Fiesta MkV (plataforma B 256/257, com facelift). Este New Fiesta é, bem... Completamente novo. De sexta geração, tem codinome interno de Plataforma B 409: “Plataforma B” é um termo criado na Europa para os carros subcompactos. É fabricado no México, chegou às ruas há pouco nos EUA e foi baseado nos conceitos Verve Hatch — que esteve em nosso Salão do Automóvel de São Paulo em 2008 — e Verve Sedan, apresentado no NAIAS do mesmo ano.
Para o Brasil, vem com o também novo (e viva o novo!) Sigma 1.6 Flex, fabricado em Taubaté. Apesar de ser Sigma e 1,6 litros, o motor compacto global da companhia é diferente do empregado no mercado norte americano, que têm variação de fase nos comandos de válvulas. Com etanol, rende 115 cv com 16,2 kgfm de torque. Queimando gasolina, o rendimento é de 110 cv e 15,8 kgfm de torque.
O preço é bem competitivo: a partir de R$ 49.900. Sobe para razoáveis R$ 51.150 com ABS. Mesmo a versão topo de linha, com bancos de couro e seus sete airbags (inclusive um para o joelho do motorista), o custo ainda é mais baixo do que de seu alvo principal, o Honda City. R$ 54.900 para o New Fiesta contra pouco mais de R$ 56 mil do City. Além do Honda, seus concorrentes em nosso mercado são: o VW Polo, o Peugeot 207 Sedan e até o Kia Cerato, de categoria superior, mas de preço próximo.
O design continua com o tema “Kinetic” da companhia. Tem traços bem marcados, fortes, “rápidos”. Os faróis são bem puxados, olhos malvados. A linha de cintura é altona, há pouca área envidraçada. Estiloso, mas claustrofóbico para quem senta atrás. Já que foi mencionado... O espaço interno é bom para quem senta à frente, porém, é realmente o de um compacto para quem vai atrás. Três adultos? Só se for para trajetos curtos e com roupas que não precisam permanecer impecáveis, pois vão amarrotar.
Andamos pouco com o carro, apenas algumas voltas em uma pista sinuosa, bem travada. O motor Sigma já era bom no Focus, maior e mais pesado. No New Fiesta, tem rendimento adequado. Agrada muito pela suavidade em qualquer faixa de rotação, não é áspero como de alguns concorrentes. Os engates de marchas são justos, a exemplo dos Focus, bem diferentes dos Ford do passado, com alavancas enormes e engates vagos e imprecisos. A relação de marchas tem uma quinta bem longa. Favorece o conforto e a economia, porém não é a melhor opção para quem busca desempenho. Veja bem: esta é uma informação técnica, pois não foi possível avaliar a quinta marcha na pequena pista. Provavelmente a quinta não “enche”.
Para um público disposto a pagar por luxo e estilo, mas também por conforto e praticidade, a decisão de não se oferecer um câmbio com engates automáticos é arriscada. O carro tem o opcional disponível para o mercado americano. É uma transmissão com dupla embreagem de seis marchas desenvolvida pela Getrag, a Powershift. O opcional custa pouco mais de U$ 1.000 e deve ser considerado seriamente pela Ford como opção para o carro oferecido por aqui, que com certeza perderá vendas por não oferecer esta facilidade.
A estabilidade parece ser boa. “Parece”, pois francamente não deu para avaliar na pistinha que, ou tinha curvas bem fechadas, onde o carro escapava de frente, ou curvas em forma de "S" para mudanças de direção suaves. O que deu para avaliar mesmo foi a boa direção. Precisa, rápida e com (a boa) assistência elétrica na coluna de direção, que promove economia e, melhor, não rouba potência. Apesar de não ter a mesma geometria de suspensão dianteira, com cáster bem avançado, parece que a inspiração para a sensação ao volante veio mesmo do alvo City (e Fit, no caso da versão hatch que não tem previsão de ser importada, segundo a Ford, mas deve desembarcar aqui em 2011).
Com os freios não foi muito diferente: não deu para avaliar completamente. A sensação inicial é de que falta um disquinho lá na traseira para equilibrar o New Fiesta. O sistema não parece ineficiente, mas há sempre a sensação de frente afundando, o que poderia ser resolvido com um sistema de discos nas quatro rodas. Não fosse pela ausência de um câmbio com trocas automáticas, diria que o New Fiesta teria sucesso garantido. O carro é bonito, moderno, tem qualidade de construção e engenharia e, muito importante: preço muito justo, altamente competitivo. Que venha a Powershift! E viva o novo... De novo!